domingo, 7 de novembro de 2010

O interesse por trás da discriminação em relação aos gordos

Retorno, sempre que posso, para a questão da marginalização e discriminação sofridas pelos indivíduos com sobrepeso e obesidade. Longe de ser um samba de uma nota só, o ponto é que o tempo passa e as mesmas questões permanecem. De um ano para cá, aconteceu um boom em relação aos gordinhos. Nunca se falou tanto deles, nunca se falou tanto de nós, porque também me incluo.
Diante de um boom como este, esperava que a discriminação e a marginalização diminuíssem, que os indivíduos com sobrepeso e obesos fossem mais respeitados e pudessem levar uma vida normal, já que, até nisso, temos nosso direito subtraído. Apesar de muito ter se falado sobre gordinhos e gordinhas, a questão é que o preconceito continua e continuamos também a conviver com o mal estar de sermos apontados na rua, de enfrentarmos dificuldades para encontrar emprego, dentre tantas outras questões que povoam nosso cotidiano. No fim das contas, a sensação que tenho é que uma fresta se abriu para nosso lado, mas há interesse de muitos em manter esta sensação que temos de estar à margem. É deste mal estar, sem dúvidas, que partem as medidas desesperadas de muitas pessoas para se sentirem inclusas, ao menos uma vez na vida.
Por mais que o Fat Pride tenha ganhado voz e vez, somos bombardeados, diariamente, com imagens, signos, que nos fazem crer que, para fazermos parte de algo, precisamos ser magros. Outro dia, li em algum lugar sobre uma pesquisa realizada com diversas mulheres a respeito do que estas achavam das capas de revistas abrirem espaço, hoje, para mulheres gordinhas. Segundo a entrevista, a maioria das mulheres criticou esta “abertura” para as mulheres reais em detrimento das photoshopadas. Aí eu me pergunto? Você confia em pesquisas? A quem estas pesquisas querem beneficiar? Quem pagou por esta pesquisa no final das contas?
Penso que, tirando a questão da monitoração da saúde, a crítica à obesidade está muito ligada a vários mercados, que faturam em cima disso. O que seria das indústrias farmacêuticas se não fossem os vários consumidores que procuram por fórmulas milagrosas para emagrecer? O que seria das clínicas estéticas se não fosse a histeria da busca pelo corpo perfeito? O que seria das academias pós-geração malhação se não fosse esta rejeição às gordurinhas? Isso sem citar os outros tantos mercados, que faturam com a lavagem cerebral feita diariamente através da televisão, das saradonas e dos saradões, de outdoors, que replicam um padrão pela cidade, das revistas de moda, que vendem um ideal de corpo só possível através de muito retoque no Photoshop. Tudo isso é norteado apenas pela mesma bússola: o capital gerado através de uma indústria que se retroalimenta.
Sou totalmente a favor que as pessoas cuidem de sua saúde, que se alimentem melhor, que façam exercícios físicos. Ser obeso não significa comer porcaria, ser totalmente sedentário e ter colesterol e glicemia lá no topo. A obesidade é uma doença multifatorial e precisa ser vista como tal. A sociedade, da qual fazemos parte, tem um grande interesse em cultivar a sensação de mal estar no obeso para que ele sempre alimente a economia de vários mercados que vivem às suas custas. O indivíduo com sobrepeso e obeso fará de tudo para não ser apontado, criticado, marginalizado e limitado em suas opções no seu dia a dia. Para isso, comprará todos os shakes, Herbalifes, pílulas milagrosas, anfetaminas para tentar um dia ser parte de algo que tanto almeja. Este mesmo indivíduo ainda pagará, nem que em 36 vezes, por uma cirurgia, uma lipoaspiração ou que tiver no mercado para também se enquadrar nos padrões, que cada vez mais altos e mais difíceis de atingir. Hoje, estamos diante de uma sociedade insegura e hipocondríaca, justamente pela pressão existente e que atende aos interesses de quem tem voz e de quem possui nas mãos o poder da propaganda e da construção do imaginário coletivo.
O que quis pontuar neste post é a necessidade de cuidar de nossa saúde mental diante de um cenário que não vai mudar, porque interesse nesta mudança, efetivamente, não há. Não devemos esperar que a sociedade mude e nem que nos adequemos a ela, porque o interesse de uns é a manutenção justamente do quadro presente. Sugiro apenas que continuemos buscando nosso espaço, usando nossa voz sempre quando possível e tentando nos impor como indivíduos pensantes e ativos na sociedade. Quem espera por mudanças, acaba frustrado e vai atrás dos milagres da inclusão, que alimenta diariamente uma indústria em ascensão. Vamos estimular verdadeiramente nossa auto-estima e não apenas a auto-estima discursiva e que morre no primeiro gole do shake da Gimenez.

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